Política do Café-com-Leite

A "Política do Café-com-Leite" foi o nome dado à sucessão de membros das oligarquias agrárias paulista e mineira nos cargos mais altos da política brasileira, notavelmente o de presidente. Essas oligarquias utilizavam-se dos poderes locais para promover o voto "de cabresto", e assim perpetuarem-se no poder.

Início da Política do Café-com-Leite

A Política do Café-com-Leite ganhou esse nome devido aos produtos que geravam a renda das duas mais poderosas oligarquias agrárias do Brasil, Minas Gerais, com o leite, e São Paulo, com o café. Vale ressaltar que o que punha essas duas oligarquias em pé de igualdade não era só os produtos que produziam (já que o café valia muito mais que o leite para o mercado internacional), mas o fato de que Minas Gerais possuía o maior curral eleitoral do país.

Assim, as elites agrárias dos dois estados, representadas por algumas poucas famílias, que outrora haviam apoiado a monarquia e os ditadores militares da República da Espada, tomaram o poder para si, manipulando as eleições para que todos os altos cargos do executivo, sobretudo a presidência e os ministérios, mas também os governos de municípios importantes e de seus próprios estados, fossem ocupados por seus membros.

Política dos Governadores

A partir da presidência de Campos Sales, em 1899, inicia-se a chamada "Política dos Estados" ou "Política dos Governadores", que consistia no seguinte: O presidente ajudava na eleição dos governadores, desde que esses fossem seus aliados e respeitassem seus desejos políticos e de sucessão, e estes por sua vez ajudavam na eleição de deputados e senadores que apoiassem o presidente. Os governadores faziam o mesmo no nível municipal com os prefeitos, e isso garantia tanto o poder do executivo federal quanto o poder dos estados e municípios, que recebiam em troca da ajuda uma grande autonomia, e usavam-na para consolidar ainda mais suas bases de poder, criando assim uma estrutura engessada que favorecia as pequenas e grandes oligarquias em todos os níveis da política nacional.

Término da Política do Café-com-Leite

O sistema só começou a se desestabilizar com a queda do preço do café à partir de 1914. Para manter a valorização do produto, vendia-se cada vez menos, e o governo federal, sempre fiel servidor dos barões do café, conseguia empréstimos de quantias exorbitantes para manter a renda das elites paulistas. O problema é que, com a europa, principal consumidora de café, destruída após a Primeira Guerra Mundial, o preço continuou baixo, e pouco se recuperou até a Quebra da Bolsa de Nova York em 1929, o pôs abaixo tanto o preço do café como o sistema internacional de crédito, fazendo com que os cafeicultores tivessem de recorrer diretamente a empréstimos federais, drenando severamente o tesouro da União e causando a perda de seu prestígio e de seu poder político.

Enfraquecidas, as oligarquias paulistas temiam um golpe mineiro, e se aliaram as elites do Rio Grande do Sul para quebrarem a Política do Café-com-Leite. O tiro saiu pela culatra, e a tentativa de golpe terminou na Revolução de 1930, que empossou Getúlio Vargas, criando o Estado Novo. A reação paulista à "traição" gaúcha viria 2 anos depois, na Revolução Constitucionalista, que, apesar de ter sido uma derrota militar, foi uma vitória política que viu a oligarquia paulista subir em prestígio e poder novamente.

Consequências da Política do Café-com-Leite

A principal consequência desta política foi sem dúvida o "crescimento artificial" engendrado por São Paulo (e por Minas Gerais, em menor grau) às custas dos outros estados. Como tinham o país sob seu controle, contraíram dívidas nacionais e internacionais imensas e desviaram recursos da União originalmente destinados a outros estados para os seus próprios, gerando o tipo de "federalismo corretivo" que possuímos hoje: São Paulo é muito mais desenvolvido porque desenvolveu toda sua infraestrutura, seu mercado interno e suas indústrias às custas de recursos que não poderia devolver.

Hoje ocorre o contrário: nesse federalismo regionalizado, São Paulo é o estado que menos recebe se considerado a proporção com que contribui, pois para chegar-se num federalismo equilibrado, em que o desenvolvimento do país seja uniforme e não regionalizado, é preciso "corrigir" o subdesenvolvimento gerado não só pela Política do Café-com-Leite, mas também pelo foco dado à região sudeste desde o declínio do açúcar e do estabelecimento do Rio de Janeiro como capital federal em 1763.

Bibliografia
  • FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil.

Pedro Padovani

História - USP

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