Revolução Constitucionalista de 1932

Antecedentes do movimento de 1932

Após a chamada "Revolução de 1930", Getúlio Vargas assumiria o poder através da instalação de um Governo Provisório que marcaria o fim da "Primeira República" ou da "República Oligárquica" no Brasil. Contudo, apesar de no início dessa nova fase política ter havido uma união entre os estados do país e o governo federal, começou-se a estabelecer uma oposição ao governo Vargas por parte de São Paulo. Assim, o movimento de 1932 pode ser entendido como uma reação paulista à nova conjuntura política iniciada a partir de 1930. Nesse novo contexto, o presidente fecharia o Congresso Nacional, anularia a Constituição de 1891 e deporia governadores de diversos estados, passando a nomear interventores. Por isso, um dos fatores que contribuíram para suscitar essa revolta foi o fato de Getúlio Vargas ter confiado o governo de São Paulo a um militar não-paulista: o tenente João Alberto. Com isso, o Partido Democrático de São Paulo sentiu-se traído, uma vez que já havia sido acordado que a direção do estado ficaria a cargo de um de seus membros: Francisco Morato. Ou seja, de certa forma o movimento de 1932 pode ser considerado uma contra-revolução, pois o processo de fortalecimento do poder central passou a ser visto como uma ameaça à autonomia de São Paulo.

O estopim para o conflito e a guerra civil

Getúlio Vargas, apoiado pelos tenentistas no comando de uma junta militar, ainda não havia convocado a Assembleia Constituinte desde sua posse em 1930. E isso fez com que os paulistas levantassem a bandeira de luta por uma Constituição, buscando, através dessa reivindicação, alianças em outros estados para se opor ao governo getulista. Formou-se, entre novembro de 1931 e fevereiro de 1932, a Frente Única Paulista, uma coalizão formada pelos dois principais partidos políticos do estado de São Paulo, o Partido Republicano Paulista e o Partido Democrático. Diante desses oposicionistas, Getúlio Vargas tenta apressar a elaboração da Constituição, criando uma comissão em 13 de maio para realizar o seu anteprojeto. Contudo, os revoltosos já vinham se preparando desde o começo de 1932 para realizar uma luta armada. Além disso, outro fato contribuiria para a detonação do conflito: ao protestar contra o governo getulista, os estudantes paulistas Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo acabaram sendo assassinados por um grupo de tenentistas. As iniciais de seus nomes, M.M.D.C, se tornaram um símbolo da Revolução de 1932.

Assim, em 9 de julho o movimento eclode, mas sem a adesão esperada de outros estados. Ou seja, os paulistas perderam o apoio de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, que decidiram negociar com o governo federal. Além disso, a Marinha começou a impedir a chegada de armamentos ao bloquear os portos paulistas, o que dificultou ainda mais a situação dos revoltosos. Com isso, no final de três meses de guerra civil, as forças do governo conseguiram a rendição de São Paulo. Em 1933, finalmente ocorreriam as eleições para a Assembleia Constituinte.

A mobilização dos paulistas para a batalha

A classe dominante de São Paulo criou um amplo discurso ideológico para convencer os paulistas a se unirem voluntariamente na luta a favor da constitucionalização. Assim, a elite paulista defendia seus interesses particulares através de uma campanha universalista, isto é, que se dizia em prol de toda a sociedade. Alguns historiadores já mostraram que, embora São Paulo tivesse construído a imagem de que a revolução de 1932 seria feita pelos paulistas em nome do Brasil, o que estaria em jogo seria um desacordo entre os interesses econômicos regionais desse estado e o projeto do governo central. Ou seja, no projeto dos liberais paulistas, o progresso e a superação do atraso adviriam da livre iniciativa dos estados do país. Em contraposição a isso, o governo Vargas começara a privilegiar o papel do Estado como um poder centralista, limitando essa liberdade local. Desse modo, a mobilização ideológica evocava a força independente de São Paulo em relação ao restante da nação. Através da imprensa, que convocava os cidadãos a participarem da causa paulista, fazia-se menção ao heroísmo dos bandeirantes, à bravura da mulher paulista, à união entre família e religião, e, sobretudo, aos princípios da Liberdade, do Direito e da Lei, os quais São Paulo deveria estender a todo o país.

De fato, conseguiu-se mobilizar praticamente todos os setores da sociedade paulista em favor do movimento. Intelectuais, estudantes, industriais, índios, negros, dentre outros estratos sociais, pegaram em armas em nome do propósito de lutar contra o regime que a classe dominante de São Paulo denominava de ditadura.

Bibliografia
  • CAPELATO, Maria Helena. O Movimento de 1932: a causa paulista. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981.

Larissa Guedes Tokunaga

História - USP

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