Socialismo

O Socialismo, chamado posteriormente por Marx e Engels de "Socialismo Utópico", foi uma doutrina social e política surgida no clima da Revolução Francesa de 1789 e das mudanças trazidas pelas Revoluções Industriais (ver Revolução Industrial). Seus principais ideológos foram, cronologicamente, Henri de Saint-Simon, Robert Owen, Charles Fourier e Pierre-Joseph Proudhon.

Saint-Simonianismo

Claude Henry de Rouvry, o conde de Saint-Simon, ou mais simplesmente Henri de Saint-Simon, foi um aristocrata francês, nascido em 1760, o primeiro proponente de uma teoria socialista, e fundador de um movimento, ativo principalmente durante o período revolucionário, que foi posteriormente chamado de Saint-Simonianismo. Saint-Simon, influenciado por suas viagens aos Estados Unidos, renunciou à seu título de nobreza e passou a advogar a meritocracia, e convenceu-se de que a ciência era a chave para uma nova sociedade, onde o progresso e a razão garantiriam o bem de todos.

Para Saint-Simon, os principais problemas da sociedade eram dois: O primeiro era o que ele chamava de "a mão avarenta", ou seja, a tendência dos seres humanos, educados nesta sociedade, a ambicionarem cada vez mais e mais dinheiro e poder, e assim um novo status social. O segundo era que para ele a sociedade estava dividida em dois: trabalhadores e ladrões, que obtinham riqueza sem trabalhar, forçando assim os outros a trabalharem em dobro.

A solução para ambos os problemas seria simples: A erradicação, através de uma educação científica, da avareza e da sede de poder, e o emprego total de todos de acordo com suas capacidades, de modo a criar uma sociedade perfeita, onde todos trabalham e recebem o que precisam, sem jamais pensar em enriquecer às custas dos outros ou ascender socialmente, a não ser pelo reconhecimento de seus próprios méritos. Essas idéias, embora não particularmente sistemáticas, influenciaram muito doutrinas posteriores, como o Comunismo de Marx e Engels e o Positivismo de Augusto Comte.

Robert Owen e a Comunidade Owenita

Dois sucessores bastante influenciados por Saint-Simon, Owen e Fourier nasceram pouco mais de uma década depois deste último, e foram mais ativos no período pós-revolucionário, sobretudo as décadas de 1810 e 1820.

Robert Owen foi um galês, nascido filho de um ferreiro de mesmo nome, em 1771. Desde jovem se interessou por filosofia, e mudou-se para Manchester, onde entrou para a Sociedade Literária e Filosófica de Manchester e casou-se com Caroline Dale, 1799. Do casamento herdou uma fábrica têxtil, chamada Lanark Mill, onde viu uma oportunidade de aplicar seus princípios. Owen conseguiu montar uma fábrica muito rentável, e ao mesmo tempo uma loja subsidiada com os lucros, onde seus trabalhadores poderiam comprar produtos a um preço menor que o de custo, e uma pequena escola para educá-los, além de financiar a construção de moradias dignas para todos.

Em 1817, Owen começou a idealizar uma nova forma de organização social, baseadas em comunidades, de 100 a 200 pessoas, que pudessem ser alocadas em terrenos de 1500 acres, para que pudessem cultivar hortaliças, criar galinhas, porcos e cabras, e manter pequenas oficinas para fabricar e consertar itens de primeira necessidade, como roupas, arados, utensílios domésticos, etc. 10 a 15 dessas comunidades deveriam formar uma comunidade maior e totalmente independente, que oferecesse liberdades individuais e todos os tipos de emprego. Para aplicar essas ideias, Owen comprou terras nos Estados Unidos, em Indiana, e começou uma comunidade em 1825. A comunidade, embora incialmente um sucesso, desintegrou-se em 1827 devido a falta de mão-de-obra especializada, de oportunidades de lazer e de insuficiência de gêneros alimentícios, além de discordâncias ideológicas.

Charles Fourier

Charles Fourier foi um filósofo francês e ideológo socialista, também contemporâneo de Robert Owen, e ativo no mesmo período. Fourier acreditava que os maiores problemas da época fossem a pobreza (não a desigualdade), o comércio e a usura (empréstimo a juros). Para solucionar tais problemas, Fourier propôs o modelo de "Falanges" e "Falangerias".

Fourier considerava que haviam 12 tipos comuns de vocações, que combinadas poderiam gerar 810 tipos de personalidades. Portanto, a Falange, ou comunidade, teria exatamente 1610 indivíduos, que morariam numa Falangeria, uma espécie de hotel enorme de vários andares, onde os indivíduos trabalhariam em todos os tipos de ocupações urbanas, e quem fizesse os trabalhos mais desagradáveis, como recolher dejetos ou combater pestes, teria os apartamentos mais luxuosos e bem acomodados, e vice-versa. As Falangerias seriam cercadas de terras agricultáveis, onde os Judeus, em penitência por viverem do comércio e da usura, fariam o trabalho agrícola que supriria as necessidades alimentares da Falange, e viveriam em pequenas cabanas. Todos teriam direito ao sexo, e a prostituição seria uma função honrada e bem recompensada na comunidade.

Fourier também advogava direitos iguais para as mulheres e para os homossexuais, e que o gênero deveria ser irrelevante para o tratamento de um indivíduo dentro da comunidade. Essas idéias influenciaram diversos pensadores e escritores, como Dostoievsky e Walter Benjamin. Um dos seus discípulos, Victor Consideránt, tentou em vão reunir indivíduos para concretizar a visão da Falange durante os distúrbios da Comuna de Paris em 1871.

Pierre-Joseph Proudhon e os Anarquistas

Pierre-Joseph Proudhon foi um economista e filósofo francês, nascido em 1809, e originalmente um socialista, mas que mais tarde fundou o Anarquismo. Em seu livro mais famoso, "O Que é Propriedade?", de 1840, Proudhon cunhou sua mais célebre frase "Propriedade é Roubo!".

Suas idéias, mais tardes consideradas a fundação do anarquismo, eram basicamente anti-estado e anti-propriedade: todos os meios de produção, fazendas, fábricas, maquinários deveriam ser de propriedade e de uso comum, e o único direito do trabalhador é ao fruto do seu trabalho. Para ele, os indivíduos deveriam associar-se em torno dos meios de produção, e produzir, cada um de acordo com sua habilidade, de modo a garantir a sobrevivência desta comunidade "auto-gestionada". Todo o dinheiro obtido com o comércio dos frutos do trabalho deveria ser doado à comunidade, de forma a constituir um "banco comunitário", que faria empréstimos sem juros de modo a financiar o trabalho de mais e mais pessoas, e assim por diante.

Proudhon foi, nesse sentido, um dos últimos socialistas "utópicos", já que, durante o final da vida deste e no período posterior, os escritos de Marx e Engels revolucionaram o conceito de socialismo e o transformaram no "Socialismo Científico", ou Comunismo. Os pensadores que mantiveram-se fiéis as tradições socialistas originais se polarizaram e se denominaram "Anarquistas", efetivamente dando origem à uma nova escola de pensamento, com novas teorias.

Bibliografia
  • FLANK, Lenny (Editor). Writings of the Utopian Socialists.

Pedro Padovani

História - USP

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