Para entendermos o processo de unificação italiana, é necessário inseri-lo no contexto mais amplo da Europa de meados do século XIX. Isso, porque é nessa época que o nacionalismo começa a se tornar uma bandeira constantemente levantada pelos países ocidentais. Após as Guerras Napoleônicas (1799-1815), uma coligação de países europeus (Áustria, Prússia, Rússia e Inglaterra) que haviam derrotado Napoleão Bonaparte resolve se reunir em Viena, Áustria, justamente para redefinir as fronteiras dos Estados Nacionais. E é durante o Congresso de Viena (1815) que a Península Itálica é estabelecida como um território que deveria ficar sob a tutela da Áustria, tendo sido dividida em sete Estados, a saber: Piemonte-Sardenha, Lombardo-Veneziano, Parma, Módena, Toscana, Estado Pontifício, e Reino das Duas Sicílias. De fato, desde o século XV as potências europeias haviam transformado a região italiana em palco privilegiado para seu intervencionismo político. Apesar disso, não existia uma ideologia unificadora que pudesse detonar um movimento de unificação. Só que essa situação de submissão ao poder austríaco estimulou anseios de unificação por parte de habitantes da península, a qual, por sua vez, se encontrava inteiramente dividida em fragmentos que não se relacionavam muito bem entre si.
A unificação da Itália é considerada tardia devido à comparação que os historiadores realizam em relação a outros países da Europa, tais como Portugal, Inglaterra, França, Espanha e Holanda, que se consolidaram entre o fim da Idade Média e os primeiros séculos da Idade Moderna. Vários interesses estavam envolvidos no processo de configuração da Itália moderna, o que o tornou muito complexo e demorado. De um lado, havia interesses de países estrangeiros em controlar a Itália, enquanto de outro havia facções locais que também tinham propósitos controversos. Isso, porque havia “italianos” que tinham apenas a ânsia de uma maior liberdade política por parte da burguesia, mas sem acabar com o poder monárquico, e outros que queriam uma independência maior, sem o domínio de príncipes que se uniam a outros monarcas europeus.
O movimento pela unificação da Itália - que foi chamado de Risorgimento - se iniciou, na prática, em 1848, quando o rei Carlos Alberto, do Piemonte-Sardenha, declarou guerra à Áustria. Embora tenha sido vencido pelos austríacos e abdicado de seu trono em prol do filho Vítor Emanuel II, o rei e sua derrota não representaram o fim dos desejos de criar o Estado italiano. Assim, a partir de 1852, surgem lideranças monarquistas e republicanas que iriam, através de muitas negociações e campanhas militares, conquistar gradualmente os territórios do mosaico que representava a Península Itálica. O ministro Cavour, do Piemonte, seria um dos protagonistas desse processo, estabelecendo um acordo com Napoleão III, da França, a fim de que este último apoiasse o Piemonte contra a Áustria. Com o apoio francês, conseguiu-se o domínio da Lombardia. Contudo, ainda seria necessário que Cavour se aliasse a Giuseppe Garibaldi para que a parte sul da península fosse conquistada. A partir de um exército chamado de Camisas Vermelhas, este último se apossaria da Sicília. Em 1870, Veneza e Roma já haviam sido anexadas, de modo que esta segunda região iria constituir a capital da Itália. Esse processo, entretanto, acabaria por originar conflitos entre o nascente governo italiano e a Igreja, uma vez que o papado não aceitaria a perda de territórios que antes pertenciam à sua jurisdição. Surgiria, assim, a Questão Romana, que só teria fim em 1929, quando a Itália reconhece o Estado do Vaticano, governado pela Igreja Católica.
Alguns historiadores já mostraram que, apesar de o Estado italiano ter se constituído politicamente a partir do Risorgimento, o sentimento nacional por parte da população era muito frágil, de modo que ela não se viu, automaticamente, como "italiana". Cabe lembrar que as regiões da Península Itálica eram muito variadas e diferenciadas entre si, apresentando múltiplos dialetos e estruturas sociais heterogêneas. Além disso, o processo de unificação permitiu observar a existência de conflitos sociais que dividiam a região de acordo com interesses econômicos locais. Torna-se nítido, por exemplo, que os estratos burgueses não estavam dispostos a apoiar a massa camponesa, uma vez que preferiam se unir aos grandes proprietários de terra que ainda apresentavam resquícios de uma mentalidade medieval. Ou seja, líderes do Risorgimento, tais como o liberal Cavour, tinham como estratégia concretizar a unidade política da Itália, mas não o propósito de realizar um movimento nacional que atingisse as camadas mais baixas da sociedade. Isso ocorre devido ao receio de que ocorra uma revolução, tal como os levantes populares que estavam acontecendo na Europa em 1848. Por isso, pode-se dizer que no caso italiano o Estado se constitui antes da Nação, pois o aparato governamental centralizador não foi construído a partir da vontade da maioria da população. Dessa forma, o povo não se sentia pertencente a uma identidade nacional. A unificação da Itália poderia ser vista, então, mais como um alargamento do Estado do Piemonte sobre outras regiões do que como uma manifestação espontânea das diversas regiões da Península Itálica.
(UFV) A unificação política da Itália, ocorrida na segunda metade do século XIX, foi um processo tardio, considerando o contexto histórico europeu. Sobre esta unificação é CORRETO afirmar que ela:
(Ufrs 2006) Dentre as alternativas a seguir, assinale aquela que está correta em relação ao processo de unificação italiana, concluída na segunda metade do século XIX.
(UEPG) Na Europa, na primeira metade do século XIX, surgiram idéias nacionalistas, como afirmação dos princípios liberais aplicados à nação, entendida como um conjunto de indivíduos dotados de liberdades naturais e unidos por interesses e idioma comuns, constituindo uma "individualidade política" com direito a autodeterminação.
Na segunda metade desse século, o panorama político europeu caracterizou-se pela política das acionalidades, e nesse contexto ocorreram as unificações da Itália e da Alemanha.
Sobre a unificação da ltália, assinale o que for correto
(PUC-MG) No processo de unificação da Itália de meados do século XIX, destacam-se, EXCETO:
(UFG) A unificação italiana, no final do século XIX, ameaçou a integridade territorial da Igreja. Esse impasse resultou