O ciclo da borracha foi o quarto, final e mais efêmero dos grandes ciclos econômicos da história do Brasil (Ciclo da Cana-de-Açúcar, Ciclo do Ouro e Ciclo do Café). Ao contrário dos outros ciclos, no entanto, o ciclo da borracha não trouxe nenhum grande desenvolvimento econômico, populacional ou tecnológico tanto para o país, quanto para as regiões da qual a borracha era extraída, sendo seu maior legado a construção de obras públicas nas capitais amazônicas de Belém e Manaus.
Se estendendo entro 1879 e 1912, o ciclo da borracha teve como base a região amazônica, com cidades como Porto Velho, Manaus e Belém. O ciclo coincidiu justamente com períodos de decadência do comércio de café, em virtude de concorrência e crescente desinteresse do mercado mundial. A borracha, no entanto, era um produto em destaque no mundo da Segunda Revolução Industrial, servindo de matéria prima para uma vasta gama de produtos, principalmente após o desenvolvimento do pneu e sua aplicação a automóveis, no ano de 1895. Como a borracha era encontrada somente nas seringueiras amazônicas o Brasil era praticamente o único país produtor significativo de borracha no mundo, obtendo um incrível monopólio de um produto que ficava cada vez mais caro. Para efeito ilustrativo, entre 1891 e 1900, o Brasil exportou cerca de 210 mil toneladas de borracha, um valor impressionante.
O atual estado do Acre, antes território da Bolívia, foi adquirido pelo Brasil no mesmo período do ciclo da borracha, em 1902, em um processo essencialmente ligado a essa atividade econômica. No final do século XIX o atual Acre começou a ser gradualmente ocupado de forma ilegal por seringueiros brasileiros, visando ampliar a área de extração da borracha. Ressentido, o governo da Bolívia cedeu o monopólio da região a uma empresa norte-americana, em uma medida totalmente desfavorável aos seringueiros brasileiros que, em 1902, se rebelaram contra o governo boliviano. O Estado boliviano, incapaz de debelar a rebelião, concordou em vender o território para o Brasil em 1903, por 2 milhões de libras esterlinas, em uma manobra diplomática genial realizada pelo Barão de Rio Branco, talvez o maior diplomata da história do Brasil e que hoje dá nome à capital do estado.
No começo do século XX, no entanto, pesquisadores ingleses, no que muitos consideram um dos primeiros crimes ambientais ocorridos no Brasil, adquiriram sementes de seringueiras da Amazônia e as transpuseram com sucesso para outros ambientes, criando grandes plantações na Malásia, Cingapura e outros países asiáticos e africanos. As plantações inglesas, que contavam com técnicas modernas de produção, áreas adequadas, utilização de maquinário avançado e o menor preço decorrente dessa produção industrial, deixaram a rústica produção brasileira muito para traz em termos de preço e quantidade de material produzido e, em 1913, encerraram o monopólio brasileiro da borracha, em um melancólico fim para o ciclo.
O mais funesto legado do ciclo da borracha, no entanto, foi a infame ferrovia Madeira-Mamoré, construída entre 1907 e 1912 sob ordem do engenheiro norte-americano Percival Farquhar, com objetivo de escoar a borracha produzida no interior da floresta para a cidade de Porto Velho, de onde ela seria transportada por via fluvial até portos na costa amazônica. As dificuldades climáticas, de terreno, o custo proibitivo e as pobres condições na qual viviam os operários que trabalhavam na obra tornaram sua construção um verdadeiro inferno. Centenas de trabalhadores perderam a vida nas obras, o que deu à ferrovia uma fama de amaldiçoada e, para completar, a inauguração oficial só se deu em 1912, justamente no final do auge do ciclo da borracha, já amplamente decadente, tornando a obra praticamente inútil. Hoje, dos 366 km originais da ferrovia, só 7 km estão ativos, primariamente para passeios turísticos.