Encilhamento

O chamado "Encilhamento" foi uma política econômica idealizada pelo então ministro da fazenda Ruy Barbosa, e implementada durante a República da Espada, no governo do Marechal Deodoro da Fonseca. Ela almejava criar programas de crédito para incentivar o crescimento de uma nova indústria brasileira, e assim catapultar o país ao status de potência.

A Política do Encilhamento

O Encilhamento, termo originário do hipismo, que significa "preparar e equipar o cavalo para uma corrida", tinha como objetivo fazer algo análago com o Brasil, ou seja, prepará-lo para assumir seu status de potência entre as demais potências estabelecidas do mundo. Para isso, era essencial a criação e o fomento de uma indústria que eliminasse ou ao menos atenuasse a dependência econômica do Brasil em relação à exportação de gêneros agrícolas, até então sua maior e mais rentável atividade.

As origens dessa política remontam ao último ano do Império do Brasil, cujo ministério da Fazenda era ocupado pelo Afonso Celso de Figueiredo, Visconde de Ouro Preto. Este almejava abrir o mercado de capitais, ou seja, a Bolsa de Valores, do Brasil, que era controlado por pouquíssimas famílias através de leis e antigas concessões. Para isso, inspirou-se no modelo europeu, e tomou duas medidas: primeiramente aboliu as antigas leis e concessões, tornando a Bolsa de Valores aberta para quaisquer empresas que desejassem abrir seu capital, de modo a fomentar o crescimento destas; e em segundo lugar criou o Banco Central do Brasil, um banco de caráter privado, porém atrelado ao Estado, e que tinha função de regulador da liquidez (ou seja, da impressão de notas e cunhagem de moedas) e de fornecedor de crédito.

Ruy Barbosa então, primeiro ministro da Fazenda do período republicano, apesar de anteriormente ter criticado insistentemente o Visconde, uma vez no cargo começou a pôr em prática e expandir os planos de seu antecessor. Para tal, ordenou o Banco Central que autorizasse a concessão de enormes empréstimos e linhas de crédito destinadas ao uso na criação de indústrias e empresas e no investimento na Bolsa. Inevitavelmente, como em qualquer grande programa de crédito surgiu o problema da inadimplência, ou não-pagamento das dívidas. A solução que o ministro Barbosa empregou mostrou-se catastrófica: a autorização da criação de novos bancos, que teriam direitos iguais aos do Banco Central, e também exerceriam o papel de "reguladores de liquidez", ou seja, imprimiriam dinheiro.

Consequências do Encilhamento

A consequência disto foi que, com dinheiro sendo impresso conforme a necessidade pelo Brasil afora, com pouquíssimo controle, logo instalou-se uma rápida inflação, que, desvalorizando a moeda brasileira, causou um surto especulativo na Bolsa de Valores, em que as empresas recebiam investimentos maciços em um dinheiro que cada vez valia menos, e para cobrir o rombo causado pela inflação emprestavam ainda mais dinheiro das linhas de crédito, o que fazia com que o dinheiro valesse menos ainda, num ciclo vicioso que arruinou a economia do país.

Isso provocou uma "Caça às Bruxas" durante o governo do marechal Floriano Peixoto, com o congelamento de bens e prisão dos poucos que se beneficiaram das especulações antes do estouro da bolha econômica. Além disso, a economia brasileira não conseguiu se recuperar por muitos anos, e só voltou à um modesto crescimento durante a presidência de Rodrigues Alves, em 1904. Além disso, o mercado de capitais brasileiro em si sofreu um gigantesco retrocesso legislativo, e, em parte por ficar associado com essa e outras crises (como a Crise de 1929), não voltou a ser aberto e à crescer até a década de 1960.

Bibliografia
  • FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil.

Pedro Padovani

História - USP

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