Brasil na Primeira Guerra Mundial

O Brasil foi, apesar de sua pequena participação, o único país latino-americano à participar da Primeira Guerra Mundial, entrando na guerra oficialmente ao lado da Tríplice Entente, composta principalmente pela França, pelo Império Russo e pelo Império Britânico, em 3 de dezembro de 1917, após as resoluções da Conferência Interaliada em Paris.

Prelúdio

A reação inicial à guerra por parte do governo brasileiro foi uma declaração de neutralidade pouco mais de uma semana após seu início, em 1914, posição advogada pelo então ministro das relações exteriores, o brasileiro de origem alemã Lauro Müller. Assim, o Brasil se manteve completamente fora do conflito até meados de 1917, salvo o torpedeamento acidental de um navio brasileiro que operava sob cores inglesas com tripulantes noruegueses, e que por esses motivos não se tornou um incidente diplomático.

Neste ano, dois desdobramentos ocorreram:

  • O primeiro foi que, com o prolongamento do conflito, o café, para o Brasil maior fonte de riqueza e principal produto de exportação, foi considerado produto supérfluo e conseqüentemente importado em quantidades cada vez menores pelos grandes países europeus, que para arcar com os custos de guerra converteram suas economias para assegurar os produtos básicos e aumentar o volume da produção de armamentos;
  • O segundo foi que o imperador alemão, Guilherme II, assinou neste ano a ordem que autorizava a guerra submarina irrestrita, ou seja, o torpedeamento por submarinos alemães de todo e qualquer navio, mercante ou militar, que auxiliasse de alguma forma o esforço de guerra dos países da entente ou que adentrasse as águas destes últimos.

Assim, buscando exportar o máximo de café possível, o Brasil enviou o navio à vapor Paraná, carregado com mais de 4 toneladas de café, à Inglaterra, que foi afundado no Canal da Mancha em 5 de abril de 1917 por um submarino alemão.

Após o incidente com o Paraná, manifestações populares anti-germânicas varreram o país, resultando na agressão contra descendentes de alemães, fechamento e pilhagem de clubes e meios de comunicação em alemão ou pertencentes à descendentes, a resignação do ministro Lauro Müller, e a depredação de escolas e embaixadas alemãs.

Pouco depois do do incidente, no dia 11 de abril o Brasil rompeu relações diplomáticas com a Alemanha. Após o torpedeamento do navio Tijuca, novamente próximo à costa francesa em 20 de maio, o governo brasileiro confiscou todos os 42 navios alemães em águas nacionais como reparação de guerra. Nos meses seguintes mais dois navios brasileiros, o Lapa e o Macau, foram afundados por submarinos alemães, e em outubro o então presidente Venceslau Brás declaro guerra oficialmente à Tríplice Aliança, enviando uma delegação oficial para participar da Conferência Interaliada em dezembro e se juntando à Entente logo em seguida.

Participação Militar

Apesar da confecção de um plano, o Plano Calógeras, para a participação em maior escala do país na guerra, o armistício em novembro de 1918 só permitiu efetivamente duas participações brasileiras no conflito:

  • A primeira foi o envio do Corpo Médico Militar, que chegou ao front ocidental na França em setembro de 1918, e atuou até o armistício no tratamento de mortos e feridos;
  • A segunda foi a criação e o envio da Divisão Naval de Operações de Guerra (DNOG), composta de dois cruzadores, quatro destróieres, um rebocador e um auxiliar. Já na viagem à caminho para o Mediterrâneo a frota sofreu duas baixas devido aos ataques de submarinos alemães. Ao parar para reabastecimento no porto de Dakar, então colônia francesa, a maioria dos tripulantes contraiu gripe espanhola, e os sobreviventes convalesceram por dois meses. Devido à este atraso a frota brasileira só chegou em Gibraltar uma semana antes da assinatura do armistício, voltando então pra casa.

Após o armistício, o Brasil consegui com sua delegação no tratado de Versalhes a posse dos 42 navios alemães em águas brasileiras e de outros 30 pertencentes à navios da Tríplice Aliança, e uma indenização com juros referente ao preço das sacas de café perdidas devido aos navios afundados e aos apreendidos em portos alemães por ocasião da declaração de guerra.

Bibliografia
  • McCANN, Frank. Soldados da Pátria.

Pedro Padovani

História - USP

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