Mesopotâmia

O que chamamos "Mesopotâmia" foi uma série de entidades político-territoriais presentes no oriente médio, correspondendo aproximadamente ao território do atual Iraque, existindo sob várias formas mais ou menos independentes de 4000 a.c. até 539 a.c., portanto por mais de 3 mil anos. Sua periodização pode ser divida em 5 partes: Uruk e o Período Dinástico Antigo, o Império Acadiano e o Período Guti, o Império Neo-Sumério, a Primeira Desagregação, o Império Babilônico e a Segunda Desagregação, e finalmente o Império Neo-Assírio e o Império Neo-Babilônico.

Período Uruk

O primeiro período ganhou esse nome em razão da fundação da primeira cidade conhecida da história, Uruk, no sul da Mesopotâmia. O período de Uruk, que dura 1100 anos, de 4000 até 2900 a.c., é caracterizado principalmente pelo surgimento da primeira escrita registrada, o cuneiforme, pelo surgimento da irrigação em grande escala, e pelo fenômeno da urbanização, onde populações espalhadas pelos campos começam a se concentrar em pequenas vilas, embriões das futuras "Cidades-Estado", ou seja, centros urbanos que governam um território rural à sua volta. O fenômeno da escrita também separou a Mesopotâmia em dois grupos, distingüidos por sua linguagem: os Sumérios, que falavam Sumério e escreviam em cuneiforme, e os Semitas, que falavam várias línguas, dentre as quais o Aramaico e o Acadiano, e não possuíam escrita.

Período Dinástico Antigo

O Período Dinástico Antigo se segue ao período de Uruk, e é caracterizado pelo surgimento de várias outras cidades-estado que se alternam na supremacia política e militar da Mesopotâmia, sendo elas, além da própria Uruk, Ur, Lagash e Umma. Os governantes dessas cidades são nomeados pelos títulos "Lugal", "Ensi", e "En", sendo que Lugal (grande homem) era reservado ao governante da cidade dominante, e os outros títulos à seus vassalos. Esse período também é caracterizado pelo refinamento da escrita cuneiforme e pela descoberta do bronze, que revolucionou os mais diversos campos, da agricultura à guerra, e pela difusão do uso da roda, e o surgimento das primeiras carruagens. É dessa época também o épico de Gilgamesh, que conta a história de um grande rei de Uruk, mais divino do que humano.

O Império Acadiano e o Período Guti

Durante o último período de supremacia, o da cidade de Umma, um rei de Akkad, Sargão (nome que possivelmente era um título, "rei legítimo"), uma cidade da Mesopotâmia central, derrota Lugal-Zagesi, senhor de Umma, na batalha de Uruk, e conquista a Mesopotâmia do sul, fundando o Império Acadiano. Mais tarde, Sargão extendeu ainda mais seu império até os montes Zagros e o mar mediterrâneo, incluindo a ilha de Kaptara (Chipre).

Durante seus 180 anos de existência, de 2334 a 2354 a.c, o Império Acadiano avaçou muito a escultura e o comércio, mantendo comércio com terras distantes, do atual Afeganistão até o atual Sudão. Na linguagem ocorreram mudanças significativas, com influências maciças ocorrendo entre o Sumério e o Acadiano, muitas vezes com empréstimo de palavras e, no caso do Sumério, do próprio alfabeto.

O colapso do Império Acadiano veio da combinação de um rei fraco, Shu-Durul, com a invasão dos Gutis, um povo originário dos montes Zagros. Os Gutis não tinham escrita nem técnicas de irrigação ou agricultura, e durante seus 50 anos de dominação supostamente destruíram o sistema de tabletes administrativos e soltaram os animais em rebanhos nômades pela Mesopotâmia. Logo os preços dos alimentos dispararam, e os Gutis foram expulsos sob o rei Neo-Sumério, Ur-Nammu, em 2100 a.c..

O Império Neo-Sumério e o Primeiro Período de Desagregação

Com a expulsão dos Gutis em 1100 a.c., consolida-se efetivamente o Império Neo-Sumério, que dura até 1940 a.c. Esse período é notável pelo primeiro código legal conhecido, o Código de Ur-Nammu, uma mistura de texto religioso e manual de jurisprudência (ou seja, contendo exemplos de casos e o que decidir em cada caso). Nesse período também houve a primeira produção em massa de textos, sobretudo o épico de Gilgamesh. A sociedade desse período ainda é pouco conhecida, só é claro que haviam enormes multidões de trabalhadores braçais que trabalhavam para o estado em grandes projetos, como templos e canais de irrigação, mas esses trabalhadores ora pareciam ter alguma mobilidade social, ora trabalhar sob compulsão, em troca somente de comida.

O período que se seguiu ao último rei Neo-Sumério, Ibbi-Sin, foi o primeiro grande período de desagregação, onde a Mesopotâmia viu-se dividida: no norte dominavam os Amoritas, um povo semita que invadiu a partir de sua terra natal na atual Síria, e no sul os Elamitas, um povo de origem desconhecida, que não faz parte dos grupos semita, mesopotâmico ou indo-ariano, que haviam conquistado a cidade de Larsa. Os Amoritas, sediados na cidade da Babilônia, conseguiram estabelecer sua dominância no reino de Hammurabi, que venceu os exércitos elamitas de Larsa em 1715 a.c, fundando assim o Império Babilônico.

O Segundo Período de Desagregação

Muito pouco é conhecido a respeito do Império Babilônico após o reino de Hammurabi. O único outro período conhecido é o de sua queda, durante o reinado de Samsu-Ditana, em 1531 a.c., que marcou o início do Segundo Período de Desagregação. Esse período durou até 934 a.c., e por quase seiscentos anos a Mesopotâmia permaneceu dividida.

Após o saque da Babilônia pelos Hititas em 1531, os Cassitas, povo indo-europeu de origem desconhecida que chegou à Mesopotâmia pelos montes Zagros, expulsaram os Hititas e se firmaram como uma elite militar governante, fundando o Império Cassita e extendendo seu domínio ao sul até o mar. Pelo domínio do norte lutavam os Hititas, os Assírios e as dinastias Hurritas, principalmente a dinastia Mitanni. Os "povos do mar", que residiam próximos ao mediterrâneo, também fizeram diversas incursões à leste, principalmente os Ugaritas e os Filisteus.

Império Neo Assírio e Império Neo-Babilônico

Em 934 a.c. ascende ao poder o Império Assírio com o rei Tiglath-Pileser II. Durante quase duzentos anos até 744 a.c. os fortes reis assírios defendem seu território com sucesso, contra incursões frequentes de Egípcios, Elamitas e Arameus, este último um povo semítico vindo da atual divisa da Síria com a Turquia. Em 744 a.c. toma posse o rei Tiglath-Pileser III, que pressionado pela ameaça de rebeliões por todo o Império, faz grandes reformas políticas, organiza o império num sistema de províncias que são tributadas tanto em recursos como em homens para o serviço militar, e assim cria o primeiro exército profissional conhecido da história. Isso possibilitou uma grande expansão territorial, reconquistando o Levante (atual Israel e Palestina), a Média (parte do atual Irã), a Anatólia central, até o atual Lago Tuz, e o sul da atual Armênia, antiga Urartu, territórios que haviam sido conquistados pelo seu antecessor Adad-Nirari II. Outros reis, como Sennacherib e Esarhaddon, conquistaram a península do Sinai e o Egito, e Assurbanipal conquistou a Arábia, tornando assim a Assíria a nação mais poderosa do mundo.

Durante o reino de Assurbanipal, contudo, vários de seus filhos e generais agregaram muito poder e prestígio, e logo após a sua morte houve uma grande guerra civil em torno de quem ocuparia o trono da Assíria. Aproveitando-se do enfraquecimento severo dos exércitos assírios, Nabopolassar, um caldeu, um povo semítico vizinho dos assírios, rebelou-se e tomou a Babilônia e o sul da Mesopotâmia. Após consolidar seu poder passou o resto da vida combatendo os exércitos assírios e expandido seu domínio, o Império Neo-Babilônico. Com seu filho Nabucodonosor, o Império atingiu seu auge e incluiu praticamente todos os domínios anteriormente pertencentes aos assírios. Ironicamente, foi um assírio, o rei Nabonido, o último rei Neo-Babilônico, que perdeu a batalha de Opis para Ciro, o Grande, encerrando assim efetivamente a independência mesopotâmica.

Bibliografia
  • OPPENHEIM, Adolph L. Ancient Mesopotamia: Portrait of a Dead Civilization.

Pedro Padovani

História - USP

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