Maias

O que chamamos de "Civilização Maia" ou "os Maias" foram um conjunto de cidades-estado e reinos rivais que floresceram no território hoje correspondente à península de Yucatán, no México, e aos países de Belize e Guatemala, até a conquista espanhola a partir da década de 1540. Os Maias se destacaram entre outros povos mesoamericanos por seu desenvolvimento e domínio de um sistema de escrita.

História dos Maias

Embora ainda não saibamos muito da história Maia, vestígios arqueológicos foram organizados por historiadores ao longo do tempo, de forma a distinguir três períodos principais: O período "Pré-Clássico", o período "Clássico", e o período "Pós-Clássico".

Período Pré-Clássico

No período Pré-Clássico, que inicia-se por volta de 1.000 a.C., surgem os primeiros proto-estados Maias, (cujo nome se desconhece, e convencionou-se chamar pelas cidades contemporâneas próximas à seus sítios), Le Blanca, que dominou a parte norte de Yucatán de 900 a 600 a.C., logo substituída por El Ujuxte, que perdeu sua proeminência por volta de 400 b.C., dando origem às duas principais entidades políticas do período: as cidades-estado de Kaminaljuyu e El Mirador (cujo nome também é desconhecido). Foi nesse período que surgiu a escrita Maia, primeiramente em pedra, formas arquitetônicas que incorporavam alvenaria e trabalho em pedra, e avançadas técnicas agrícolas, como canais de irrigação. Por razões desconhecidas, as duas cidades-estado entram em colapso por volta do séc. II d.C., e suas ruínas são abandonadas.

Período Clássico

No período Clássico, que se inicia a partir do séc. III d.C. e se extende até o começo do séc. X d.C., o poder territorial se torna mais fragmentado, e várias importantes cidades-estado emergem, como Caracol, Tikal, Palenque, Copán, Calakmul e Xunantunich. Apesar dessa fragmentação, a unidade cultural Maia se reforça, com a adoção de uma mesma língua franca entre as elites das várias cidades, o que facilita a comunicação, e a criação de uma complexa rede de reinos maiores e menores, interligados por numa complexa rede de lealdades e rivalidades. Nesse período também os Maias já praticavam o comércio de longa distância, com povos que habitavam desde a atual fronteira do Panamá e da Colômbia, ao sul, do México e dos Estados Unidos, ao norte, e as ilhas caribenhas a leste. Nesse período também se construíram os grandes palácios e templos piramidais que conhecemos até hoje, como Tikal e Chichen Itzá.

A transição do período Clássico para o Pós-Clássico é chamada pelos historiadores o "colapso Maia", e é um dos maiores mistérios da arqueologia contemporânea. Em meados do séc. X d.C., as maiores e mais importantes cidades-estado Maia são simplesmente abandonadas, e nenhuma das inscrições arqueológicas atesta nada sobre o período. Dezenas de teorias, desde uma invasão em massa de povos do norte até um colapso ecológico ou climático, foram propostas para solucionar o mistério, mas nenhuma até hoje atingiu algum consenso.

Período Pós-Clássico

O Pós-Clássico em si foi o período que durou do final do séc. X até os primeiros contatos espanhóis no começo do séc. XVI. Nesse período, os povos das cidades-estado do norte de Yucatán, que sobreviveram ao colapso, formaram novos reinos rivais, entre os principais estão o reino de Itzá, de Tayasal, Edzná, Uxmal, Coba e Mayapan (este último a provável origem do nosso termo "Maia").

Cultura e Religião dos Maias

Apesar das muitas fases e diferentes reinos Maias, algumas similaridades em suas culturas valem ser destacadas.

Primeiramente, a escrita Maia foi talvez o mais importante desenvolvimento cultural Maia, e o que lhes permitiu um grau avançado de coesão cultural e social. A maioria dos textos e inscrições eram em Ch'olti', uma espécie de língua franca das elites, e principalmente da casta sacerdotal, responsável pela grande maioria das produções escritas, embora existissem outras línguas que também formaram sistemas escritos, como o Yucatec no norte da península. Embora a escrita maia possuísse uma forma escrita corrente e alfabética, muitas vezes as inscrições sagradas eram feitas em hieróglifos, como no Egito, particularmente no caso das genealogias reais. Também desenvolveu-se um sistema numérico de base 20, que era notado na forma de pontos (que significavam 1) e barras (que significavam 5). Números alinhados horizontalmente indicavam somas, e verticalmente indicavam multiplicações de base 20 (1, 20, 400, 8000).

Boa parte das práticas sociais dos Maias giravam em torno de uma grande classe sacerdotal, e de práticas altamente ritualizadas envolvendo praticamente todos os aspectos da existência, como nascimento e morte, casamento, colheita, guerra, caça, saúde ou doença, dentre muitos outros. O "sacrifício de sangue" era extremamente importante para a maioria dos rituais religiosos, e envolvia furar uma parte sagrada do corpo (quase sempre a orelha, língua ou os genitais), e coletar o sangue, que era então usado conforme o tipo de ritual. Em um ritual da fertilidade, por exemplo, o sangue dos genitais do casal real era coletado e esfregado em várias espigas de milho, que eram então processadas e transformadas numa espécie de pão sagrado, que era então consumido pela população da cidade. Já o sacrifício de animais era mais raro e reservado para ocasiões momentosas, provavelmente porque os maias tinham poucas fontes de proteína animal, principalmente obtida pela caça, e poucas espécies de animais domesticados. O sacrifício humano era bem mais raro na cultura maia se comparado à outras civilizações mesoamericanas, como os Astecas, mas ainda assim era praticado com certa regularidade, e era visto como a mais alta forma de honra e devoção aos deuses.

Os maias possuíam também ums sistema complexo de medição de tempo e de festivais sagrados, na forma do Calendário Maia. Este era baseado num ano de 365 dias, dentro de uma estrutura maior de grandes fases de 819 dias, e também dividido em unidades menores, com 18 "meses" e "semanas" de 9 dias. Havia ainda um outro calendário de função desconhecida, de 260 dias, levando muitos a especularem sobre teorias da conspiração, como a que o fim do mundo ocorreria em 2012.

Sociedade dos Maias

Finalmente, pouco se pode generalizar sobre a sociedade dos vários períodos maias, exceto no que tange à importância da figura real, dos rituais de lealdade, e da importância da substancial camada sacerdotal, que possibilitava a execução da miríade de rituais que regiam o tecido social. Também sabemos algumas coisas sobre a infância na sociedade Maia, por exemplo o custome de achatar a testa dos recém nascidos com prensas de madeira, para fins estéticos, assim como o costume de forçar o estrabismo através da manipulação de objetos na frente dos olhos, para o mesmo fim.

Ao contrário de outras culturas mesoamericanas, a cultura maia resistiu bastante à colonização espanhola, e além de antigos costumes renovados em caráter sincrético, dialetos maias ainda são falados por milhões de pessoas, e muitas aldeias vivem segundo modos de vida tradicionais, seguindo as técnicas agrícolas versões "sanitizadas" ou cristianizadas de seus costumes ancestrais.

Bibliografia
  • COE, Michael D. The Mayans.

Pedro Padovani

História - USP

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