Revolta de Beckman

A chamada "Revolta de Beckman", que tem esse nome devido aos irmãos Manuel e Tomás Beckman, seus líderes, foi um revolta ocorrida na então território do Maranhão, que corresponde aproximadamente nos dias de hoje aos territórios do Maranhão, Ceará, Piauí, Pará e Amazonas, de 1684 a 1685.

Causas da Revolta de Beckman

Embora a economia do então território do Maranhão consistisse em vários ramos importantes, como a criação de gado de couro e o plantio do tabaco para exportação, o açúcar de exportação, produzido nos engenhos, ainda consistia na atividade econômica mais importante do território, da qual boa parte de sua população dependia, direta ou indiretamente. Desde a expulsão dos holandeses do nordeste brasileiro em meados do séc. XVII e o consequente boicote ao açúcar brasileiro na esfera de influência holandesa, além das iniciativas de produção a preços mais baixos sobretudo nas antilhas, fez com que a situação das exportações do açúcar maranhense se tornasse insustentável.

Para completar, devido ao alto preço dos escravos africanos, os senhores de engenho obtinham a maioria de sua mão de obra da escravização dos indígenas locais, que foi proibida pela Coroa Portuguesa em 1680, sob pressão dos jesuítas, que viviam com os nativos e os catequizavam nos aldeamentos, empregando-os principalmente no cultivo ou coleta das chamadas "drogas do sertão" (produtos locais como Cacau, Baunilha, Urucum, Guaraná, entre outras). Face à falência do sistema produtivo dos engenhos por falta de mão-de-obra viável, os senhores de engenho da região começaram à organizar pequenos bandos armados para tomar de assalto os aldeamentos jesuítas, e capturar indígenas para viabilizar a produção do açúcar.

Procurando evitar uma revolta e ao mesmo tempo incentivar o desenvolvimento econômico da região, a Coroa instituiu a Companhia de Comércio do Maranhão, que tinha como seus principais objetivos fornecer 10.000 escravos africanos à preços tabelados, na razão de 500 por ano, e fornecer gêneros europeus tidos como necessários à população local, como roupas, vinho, bacalhau seco e farinha de trigo à preços determinados pela Companhia, e em contrapartida deteria o "estanco", ou monopólio, do comércio do território por 20 anos, e era obrigada a enviar pelo menos 2 navios por ano com a produção do Maranhão, que teria de ser vendida somente à Companhia e à preços tabelados estabelecidos pela mesma.

O resultado dessa medida foi o agravamento geral da crise no território, por prejudicar ao mesmo tempo vários setores importantes da população. Os senhores de engenho saíram prejudicados pois na maioria das vezes o preço pelo qual tinham de vender sua produção à Companhia era insuficiente para cobrir os custos de vida e da própria produção; os comerciantes locais não podiam mais escapar do gargalo da companhia, e o comércio local foi decaindo progressivamente; os que viviam da captura de indígenas para escravização viram-se sem renda ou possibilidade de sobrevivência, e finalmente, os preços abusivos cobrados pelos gêneros europeus na prática impossibilitava sua aquisição pela maior parte da população.

A Revolta

A revolta finalmente eclodiu em fevereiro de 1684, quando, aproveitando a ausência do governador geral do Maranhão, que estava em visita à Belém do Pará, um bando armado, liderado por uma junta de senhores de engenho, chefiados pelos irmãos Beckman, invadiu e tomou São Luís. Os revoltosos estabeleceram uma junta para governar o território, chefiada por um conselho de 6 membros, dois para cada um dos setores principais, latifundiários, comerciantes, e o clero. O conselho então enviou emissários à Belém, buscando sua adesão, onde foram recebidos pelo Governador, que prometeu anistia e cargos no governo aos revoltosos se estes depusessem armas, mas a oferta foi recusada, e o conselho passou a efetivamente governar a província tomando às seguintes medidas: A deposição do Governador e do Capitão-Mor (encarregado da polícia e das forçar armadas da Coroa), a abolição do estanco, a volta da escravidão indígena, e a expulsão dos jesuítas.

Tomás Beckman então tomou navio para Portugal, buscando legitimidade para seu governo junto à Coroa, mas chegando lá foi preso e, no ano seguinte, mandado num navio junto ao novo governador, Gomes Freire de Andrade, com tropas para reprimir e por um fim à revolta. Quando chegaram, porém, a revolta já estava praticamente dissolvida por conta de disputas internas, e as tropas portuguesas não enfrentaram qualquer resistência. Os irmãos Beckman e Jorge Sampaio, outra liderança dos latifundiários locais, foram sentenciados à morte pela forca, e os demais envolvidos condenados à prisão perpétua, deixando o território do Maranhão mais uma vez sob o jugo da Companhia, e em estado de miséria econômica por todo o restante do período colonial.

Bibliografia
  • CHIAVENATO, Julio José. As Lutas do Povo Brasileiro: do "Descobrimento" a Canudos.

Pedro Padovani

História - USP

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