Fenícios

O que chamamos "Fenícia" foi um conjunto de diferentes culturas e entidades político-territoriais que tinham em comum a ancestralidade de suas classes dominantes, no caso de Cartago e das colônias, e da maioria de seus habitantes, no caso da própria Fenícia, que eram descendentes das tribos semíticas do Levante.

A Fenícia e o domínio do Levante

Os fenícios são um povo de origem semita, ou seja, parte de um corpo linguístico-cultural originário do que hoje chamamos de Oriente Médio. A teoria mais aceita é que os fenícios eram originários da costa do mar da Eritréia, atual Bahrein, que depois teriam migrado para o que depois ficou conhecido como Fenícia, compreendendo partes do território dos atuais Líbano e Síria. Os fenícios teriam migrado para essa região por volta do séc. XX a.C..

Por volta do séc. X a.C., os fenícios se achavam em plena expansão de um império marítimo-comercial que dominou economicamente o mediterrâneo, sobretudo graças à sua invenção de um modelo de navio que possibilitava a navegação de longa distância, chamado pelos gregos de "birreme". As amplas provisões de cedro das regiões costeiras do levante possibilitaram a criação de uma enorme frota comercial e militar, que possibilitou o crescimento e a fundação de colônias por toda a costa do mediterrâneo.

Esse império comercial era sediado em diversas cidades costeiras com governos semi-independentes, sendo que as principais eram Biblos, Sídon, Tiro, Simira e Beritos. Os Fenícios também tinham um alfabeto altamentente sofisticado, que posteriormente deu origem, através do contato com Creta e as ilhas gregas, ao alfabeto grego. O termo grego "bíblico", ou "bíblia" originou-se do termo para os vastos volumes contábeis mantidos no palácio em Biblos, criando assim um dos primeiros exemplos de livros.

Além disso, uma das principais razões que contribuíram para tornar a Fenícia uma potência dominante no mediterrâneo foi o vácuo de poder deixado pelo severo enfraquecimento dos maiores impérios da época, os Hititas e os Egípcios, que sofreram invasões de outros povos exatamente nessa época, o que facilitou muito a expansão dos Fenícios, já que o território ocupado por estes se localizava justamente entre os dois impérios, que serviam como uma espécie de "escudo" contra essas invasões.

Religião dos Fenícios

Os fenícios praticavam uma variante da religião canaanita, cujas características principais eram o monolatrismo, ou seja, reconhecimento da existência de vários deuses, embora só se cultue um, os sacrifícios, incluindo algumas situações em que ocorriam sacrifício humano, e o enterramento com bens, parte da crença da vida após a morte, pois se acreditavam que o morto continuaria a possuir e utilizar os bens materiais como fazia em vida.

Declínio e Queda dos Fenícios

O declínio e queda da Fenícia em si, principalmente devido à administração autônoma de suas cidades e colônias, foi geograficamente limitado à Fenícia em si, e muito retardado em relação ao resto de seus domínios marítimos e outros entrepostos. Além disso, os povos conquistadores relutavam em prejudicar as rotas comerciais por eles estabelecidas, de modo que embora muita coisa mudasse do ponto de vista político e cultural, pouco mudava do ponto de vista comercial, e as rotas que agiam como veios de transmissão de valores pelo mediterrâneo foram deixadas praticamente intactas, e não diminuíram a importância estratégica da região do Levante.

O declínio da Fenícia em si começou com a sua conquista por parte do Império Aquemênida em 539 a.C., que a subdividiu em quatro reinos vassalos com capitais nas cidades estados mais importante, Tiro, Biblos, Sidon e Arvade. Os aquemênidas mantiveram largamente intacta as estruturas sociais e culturais, e a fenícia continuou com um comércio próspero e uma excelente marinha, que construía a maior parte da frota naval dos reis persas.

Em 323 a.C. a Fenícia foi conquistada por Alexandre, o Grande, que executou diversos dos cidadãos mais ricos das cidades-estado por sua resistência, mas manteve os reis no poder, embora subordinasse-os ao governador da Síria, Laomedon. A partir desse período, a cultura e sociedade fenícias foram sendo gradualmente helenizadas conforme ia sendo governada pelos vários herdeiros do império de Alexandre, e por ocasião da conquista romana em 65 a.C. a fenícia já podia ser considerada como mais uma província helenística na ásia, com o substrato cultural e social nativo largamente suplantado pelas práticas helênicas, que continuaram a ser praticadas e incentivadas durante o período romano.

Cartago e as Colônias

Uma das maiores realizações dos fenícios foram suas colônias, fundadas sobretudo na costa sul do mediterrâneo. As mais proeminentes entre essas foram Cartaia (posteriormente chamada pelos romanos de Cartago Nova), Gadir, atual Cádiz, na Espanha, e a própria Cartago, que muito após do declínio da Fenícia em si, tomou controle das demais colônias e fundou seu próprio império, que rivalizou com o império romano por mais de um século, e deram continuidade ao legado Fenício até sua conquista e assimilação pelo império romano.

Bibliografia
  • MARKOE, Glenn. Phoenicians.

Pedro Padovani

História - USP

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