Movimentos Tenentistas

Os "Movimentos Tenentistas", também conhecidos como "Tenentismo", foram uma série de revoltas durante a década de 1920 lideradas por oficiais do exército de baixa patente. Essas revoltas tinham como principais reivindicações a reforma da estrutura de poder no Brasil, que estava sob a "República do Café-com-Leite", ou seja, dominado pelas oligarquias mineira e paulista.

Os 18 do Forte de Copacabana

A primeira das revoltas tenentistas foi chamada "Revolta dos 18 do Forte de Copacabana", e ocorreu em 5 de julho de 1922 na capital brasileira, na época o Rio de Janeiro. O motivo da revolta foi sobretudo o descontentamento dos militares com o domínio político dos oligarcas do sudeste, mas o episódio considerado o estopim da revolta foi a divulgação de uma série de cartas do presidente eleito Arthur Bernardes, que ainda nem havia tomado posse, insultando e denegrindo a imagem dos militares brasileiros. Os oficiais de diversas unidades do Rio de Janeiro começaram a organizar uma revolta marcada para 5 de julho, mas na data prevista somente a divisão do Forte, no ato composta cerca de 300 militares e 1 civil sob o comando de Euclides Hermes da Fonseca, se levantou.

Após receberem pesados bombardeios pelos canhões da Fortaleza de Santa Cruz por boa parte do dia, os revoltosos resolveram marchar em protesto até o posto 3 de Copacabana. Antes da marcha começar Hermes da Fonseca autorizou quaisquer dos comandados que não quisessem lutar que se retirassem, e todos menos 29 o fizeram. Logo os revoltosos foram cercados e houve tiroteio, durante o qual mais 11 revoltosos conseguiram fugir. Dos 18 restantes, que dão nome a revolta, só 2 sobreviveram e foram presos e executados.

A Revolução Esquecida

A "Revolução Esquecida", também chamada de "Revolta do Isidoro" ou "Revolta Paulista", foi a segunda das revoltas tenentistas, ocorrida no dia 5 de julho de 1924, em homenagem ao segundo aniversário dos 18 do Forte. A revolta foi deflagrada na capital paulista pelos tenentes de várias divisões do Exército e da Força Pública Paulista (equivalente à atual Polícia Militar) sob o comando do general reformado Isidoro Dias Lopes. A revolta teve como motivo os desmandos do oligarca Carlos de Campos, e ocupou São Paulo forçando o então presidente do estado (título equivalente ao de governador) à fugir para o interior.

A revolta conseguiu apoio de várias divisões do interior e se espalhou pelo estado, tomando várias cidades com pouca resistência. O vice-presidente, coronel Fernando Prestes, foi convidado a presidir o estado, mas declinou. Após o bombardeio de São Paulo por aviões, o comando da revolta migrou para Bauru, e de lá arquitetou um ataque à sede da força punitiva federal, Três Lagoas (então no estado de São Paulo, atualmente Mato Grosso do Sul). Na Batalha de Três Lagoas um terço dos revoltosos foram mortos, e o restante capturado e preso. Posteriormente todos os integrantes receberam anistia da mão de Getúlio Vargas após a vitória da Revolução de 1930.

A Comuna de Manaus

A terceira das revoltas foi deflagrada em Manaus em 23 de julho de 1924 pelos militares da Guarnição Permanente de Manaus. O motivo da revolta foi, como nas outras, um ressentimento contra a oligarquia dominante, mas por uma razão primariamente econômica: os preços da borracha, produto do qual dependia a economia amazonense, só faziam cair em razão da Primeira Guerra Mundial, e o governo federal, agindo através do presidente do estado, César do Rego Monteiro, só concedia empréstimos a juros altos, e autorizava Rego Monteiro a aumentar os impostos a título de compensação (e enriquecer no processo).

A revolta logo se espalha para as cidades do interior no intuito de tomar todas as estações de telégrafo e telefone, e se apoderarem dos transportes fluviais. Os revoltosos tem êxito e conseguem isolar Manaus, declarando instuída a Comuna de Manaus e apontando o tenente Alfredo Ribeiro Júnior como governador e comandante. A rebelião então toma o forte de Óbidos, e avança para o Maranhão com apoio das populações locais. O tenente Ribeiro Júnior torna-se um herói na capital amazonense, ao confiscar propriedades de grandes empresas inglesas, fundos bancários dos oligarcas e cobrar impostos altíssimos sobre as grandes fortunas.

As tropas federais contudo, após vencerem os revoltosos em São Paulo marcham para o norte, e cercam Manaus e Óbidos, forçando as guarnições a se renderem. Os revoltosos são condenados à penas leves de prisão, por medo de uma nova revolta em relação à solidariedade da população com o governo rebelde.

A Coluna Prestes

A última revolta tenentista e a mais duradoura, a Coluna Prestes, nomeada em homenagem à Luís Carlos Prestes, um capitão nascido em Porto Alegre, seu líder juntamente com Miguel Costa, um argentino naturalizado brasileiro. A Coluna originou-se das tentativas falhas das outras revoltas, e, como o sentimento de indignação perante as oligarquias persistia, atraiu muitos dos derrotados das outras revoltas, assim como radicais de diferentes ideologias, principalmente o comunismo.

A marcha durou de 1925 à 1927 e percorreu 25 mil quilômetros Brasil adentro com o intuito de deflagrar uma revolução generalizada que derrubaria as oligarquias. No entanto, por maiores que fossem seus esforços falharam em atrair números suficientes de revoltosos e em estimular a revolta em pequena escala pelo interior brasileiro e, depois de quase 30 meses de marcha a Coluna dissipou-se na fronteira com a Bolívia, sem êxito.

No entanto, a Coluna e as outras revoltas tenentistas tiveram um impacto extremamente importante na história brasileira, e seu capítulo final foi a vitoriosa Revolução de 1930, que, com a posse de Getúlio Vargas derrubou a oligarquia e anistiou os tenentistas.

Bibliografia
  • PRESTES, Anita L. Os Militares e a Reação Republicana: As Origens do Tenentismo.

Pedro Padovani

História - USP

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