Holocausto

Holocausto foi o nome dado à série de eventos que transpiraram na Europa durante a Segunda Guerra Mundial, especialmente no que tange à questão da população judaica e outras minorias, como os Roma (que chamamos de Ciganos) internadas nos Campos de Concentração em território polonês, como Auschwitz e Birkenau, entre outros, e suas consequências na geopolítica do mundo pós-guerra.

Antecedentes do Holocausto

Os eventos que cercam o Holocausto são, em última instância, uma consequência do racismo onipresente nas teorias e práticas do Nacional Socialismo, ou Nazismo. Esse conjunto de idéias deve ser compreendido principalmente em três eixos.

Anti-semitismo

O primeiro desses eixos é o histórico de anti-semitismo, presente não só na Alemanha, mas em toda a Europa, desde a Idade Média. Os judeus constantemente se associaram ao longo dos séculos, aos setores dominantes, sobretudo através de vínculos financeiros, e a si próprios, formando comunidades mais ou menos isoladas da vida cotidiana do resto da população, e em constante conexão, ajudando-se mutuamente a garantir e expandir seu papel nas sociedades da Europa e do mundo. De tempos em tempos, seja por razões religiosas (que colocavam os judeus no papel de "executores de Cristo"), seja por razões financeiras ou mesmo por razões políticas, como foi o caso da teoria da "facada pelas costas", ao final da Primeira Guerra Mundial, os judeus eram periodicamente perseguidos e mortos, e em geral depois perdoados até que o ciclo recomeçasse.

Racismo Científico

O segundo eixo é o chamado Racismo Científico. Essa teoria, popularizada por um aristocrata francês, o Conde de Gobineau, propunha que a raça "ariana", um subtipo da raça caucasiana, ou "branca", era cientificamente superior, tanto em atributos físicos quanto espirituais, e portanto destinada a dominar todas as outras raças inferiores. Disso resulta que a mistura de raças por parte dos indivíduos arianos deveria ser evitada a qualquer custo, sob pena de destruir essa superioridade. Por mais que essa idéia possa parecer repugnante e sem base científica nos dias de hoje, ela era extremamente popular e respeitada entre os círculos intelectuais europeus do final do séc. XIX até o final da década de 1940, e numerosos grupos de pesquisadores dedicaram anos de suas vidas a experimentos que pudessem provar definitivamente a teoria.

Movimento "do Povo"

O terceiro eixo era o chamado movimento "Völkisch", ou "do Povo", que nasceu na Alemanha no final do séc. XIX. Esse movimento possuía várias correntes, mas a maioria pregava uma superioridade do espírito do povo alemão, e uma doutrina de "Sangue e Solo", ou seja, celebrar e cultivar a relação de um povo com sua terra, e defendê-la a todo custo da ocupação daqueles que não são parte do povo alemão. As teorias do movimento Völkisch também casavam-se muito bem com a antiga prática de Ostsiedlung, posta em prática desde o tempo dos Cavaleiros Teutônicos, por volta do séc. XII, que consistia na tomada de terras ao leste para garantir a força e a sobrevivência do povo alemão.

Aliando-se estes três eixos, temos a síntese da teoria por trás das práticas nazistas: a Alemanha tem de pertencer ao povo alemão, e todos os povos que se opuserem à sobrevivência ou soberania do povo alemão devem ser banidos. Muito antes do começo efetivo da guerra e da operação dos campos na Polônia, os alemães puseram em prática muitas dessas teorias através da promulgação de leis raciais, restringindo e eventualmente eliminando os direitos sociais e políticos dos judeus e outras minorias a partir da década de 1930.

Os Campos de Concentração

Embora a ideia de Campos de Concentração não fosse nova, sendo por exemplo empregada pelos Estados Unidos para prenderem nipo-americanos depois do ataque a Pearl Harbor, a Alemanha os construiu em grandes números e em grande escala, ficando atrás só dos soviéticos nesse aspecto. Os campos alemães eram subdividos em vários tipos, de acordo com sua função (nota-se que um campo poderia muito bem consistir de mais de um tipo):

  • Campos de Trabalhos Forçados: geralmente usados para transformar a população "improdutiva" de presos políticos, judeus e outras minorias numa parte do esforço de guerra;
  • Campos de Prisioneiros: onde os soldados inimigos capturados permaneciam, ao menos temporariamente; muitos eram transferidos para Campos de Trabalho dependendo da necessidade;
  • Campos de Re-educação: onde os intelectuais dos países eslavos ocupados eram mandados para serem doutrinados no seu papel de raça subalterna, segundo os preceitos nazistas;
  • Campos de Coleta e Trânsito: eram campos temporários usados para transferir os internos entre os outros tipos.

Os judeus e outras minorias eram invariavelmente mandados para os campos de trabalho, onde passavam os dias em jornadas de trabalho exaustivas, sem limite fixo de horas, e recebendo rações mínimas, e muitos sofriam de doenças ligadas à desnutrição e deficiências vitamínicas. Também eram conduzidos experimentos médicos nos campos, e os pacientes eram muitas vezes sujeitos à cirurgias e experimentos que são considerados cruéis pelos padrões éticos contemporâneos.

Embora exista um relativo consenso quanto as centenas de milhares de mortes nesses campos resultantes da inanição, provacada pelo desvio de rações para o esforço de guerra alemão, à essa altura em franca derrocada, a existência de campos de extermínio e câmaras de gás é bem estabelecida na mídia contemporânea, embora ainda seja discutida por historiadores, principalmente devido ao fato dos campos terem sido descobertos pelos soviéticos, e permanecido sob a custódia dos mesmos durante vários meses, levando à suspeita de que os campos tenham sido modificados e provas fabricadas durante esse período.

Consequências do Holocausto

As consequências do Holocausto para a geopolítica do pós-guerra são profundas, sobretudo no que diz respeito ao rápido ganho de força política e militar dos chamados "Movimentos Sionistas", ou seja, facções de judeus, em sua maioria expatriados dos países europeus, que defendiam a volta do povo judeu à sua terra ancestral, e a criação de um estado de Israel, à revelia dos povos que habitava a região, hoje conhecidos como Palestinos, e de outras facções de judeus que consideravam que o povo judeu não poderia voltar à terra ancestral antes da vinda do Messias. Contudo, o Sionismo ganhou força entre os aliados no pós-guerra, e a recém criada ONU, chefiada pelos Estados Unidos, apoio com recursos financeiros, materiais e armas a criação do estado de Israel, que perdura até hoje.

Memória do Holocausto

A memória do Holocausto tornou-se muito bem estabelecida, sobretudo no ocidente, e várias organizações usam de todos os recursos ao seu dispor para que a versão vigente dos fatos mantenha-se inalterada, e vários países europeus, como França, Suíça e Alemanha promulgaram as chamadas "Leis de Memória", que proíbem o questionamento de quaisquer fatos ou números que sejam relevantes aos acontecimentos do Holocausto, sob pena de prisão e perda de cargos públicos, uma censura sem precedentes nos estudos contemporâneos de História.

Bibliografia
  • THION, Serge. Verité Historique ou Verité Politique?

Pedro Padovani

História - USP

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