Calvinismo

O Calvinismo, ou Tradição Reformada, foi uma corrente influente da religião cristã no processo do surgimento do Protestantismo. A vertente, originária da Suiça, começou antes mesmo do próprio Calvino, com as tentativas de reforma de Zwigli em meio ao contexto decadente da Igreja Católica do séc. XVI.

Zwingli e a Primeira Geração

Huldrych Zwingli, um pregador suíço, influenciado pela leitura de teólogos como Desiderius Erasmus (ou Erasmo de Roterdã), começou sua pregação com uma proposta de volta ao cânone, estudando os textos bíblicos e pregando os comportamentos ali contidos, pregando contra as instituições e práticas que não estivessem ali recomendadas ou justificadas, como o uso de instrumentos musicais e canto nas igrejas, o uso de imagens e representações, as indulgências, entre outras.

Zwingli travou contato com Martinho Lutero na mesma época em que os dois desenvolviam suas teses reformistas, e inicialmente corresponderam-se como aliados, até a "Controvérsia das Eucaristias", em 1524. Os dois e seus respectivos séquitos afastaram-se após discordar sobre a questão da presença do corpo e do sangue de cristo na eucaristia, que pelos seguidores de Zwingli era considerada apenas uma alegoria simbólica, e como realidade efetiva (teológica) pelos Luteranos. Ainda na época de Zwingli houve uma significativa propagação de suas idéias pelas cidades suíças independentes, assim como no sul da atual Alemanha até a formação da Liga de Esmalcaldica pelo príncipe de Hesse, que consolidou o Luteranismo numa tentativa de estabelecê-lo como corrente dominante na região.

Calvino e a Segunda Geração

Influenciado pelas idéias de Zwingli e seus seguidores, Calvino popularizou os trabalhos de seu antecessor através do seu próprio, o livro "Instituições da Religião Cristã", que à esta altura já haviam sido influenciados pelo Luteranismo em alguns aspectos, como a doutrina "Sola Fide", ou "Só pela Fé", que pregava que o perdão divino independia de ações ou penitências, e era concedido segundo a vontade divina desde que o pecador tivesse fé nos planos de Deus, e na Salvação pela Graça, segundo a qual alguns indivíduos eram escolhidos por Deus para serem iluminados, grandes homens, e assim salvos e com lugar garantido no reino dos céus.

Com essa atuação, embora praticamente excluídos dos centros do Sacro Império Romano-Germânico, o Calvinismo se espalhou e se consolidou em enclaves através da Europa, da Polônia à Inglaterra, passando pela França e pelos Países Baixos, graças sobretudo ao trabalho de ministros conversos ou mesmo influenciados à distância por seu trabalho.

Propagação e a Segunda Reforma

O Calvinismo ganhou, no final do séc. XVI, poderosos aliados, como a filha do então rei da França, Luís XII, e a filha de Jeanne de Navarra, Henrique de Navarra, futuro Henrique IV da França. Essa penetração da fé reformada nos altos escalões do poder gerou uma série de conflitos chamados de "Guerras de Religião", engendrando alguns dos mais sangrentos episódios da época, e gerando uma diáspora de Calvinistas e outros protestantes refugiados, que por sua vez contribuíram para a dispersão da fé, inclusive para o novo mundo, como foi o caso do famoso navio Mayflower, que trouxe um influxo de protestantes que influenciaram fundamentalmente o desenvolvimento das Treze Colônias.

O século XVII viu uma reação grande da Igreja Católica, a chamada Contra-Reforma, que visava prejudicar a influência e o poder dos protestantes nos altos escalões do poder europeu, e ao mesmo tempo a fragmentação do Calvinismo em diversas seitas, como os Puritanos, surgidos durante a "Controvérsia das Vestimentas", no contexto do protestantismo inglês, ou Igreja Anglicana, e os Anabatistas, herdeiros dos Hussitas e dos Sacramentistas Holandeses, mostrando que, ao contrário da Igreja Católica, o Calvinismo e outras formas de protestantismo, apesar da atração que suas ideias exerciam, não conseguiam se organizar efetivamente numa frente única que suplantasse o catolicismo.

Neo-Calvinismo

O último grande fôlego da religião Calvinista foi o Neo-Calvinismo, surgido na Holanda no séc. XIX. Essa doutrina enfatizava a separação entre igreja e estado, sem proeminência de nenhum, uma rejeição dos dualismos teológicos, a crença de que todas as visões não-cristãs eram logicamente inconsistentes, e a crença de que poderia haver um pensamento lógico-científico que fosse religiosamente neutro, portanto fora da esfera da religião. Ao mesmo tempo os Neo-Calvinistas queriam apropriar-se, através de uma visão cristã "holística", ou total, dos aspectos da vida, já que estes eram invariavelmente partes da criação e do desígnio divinos.

Pedro Padovani

História - USP

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