Guerra do Paraguai

A Guerra do Paraguai, ou Guerra da Tríplice-Aliança, foi um conflito militar ocorrido entre Brasil, Argentina e Uruguai de um lado, contra o Paraguai do outro. Considerado o maior conflito internacional ocorrido em território americano, a guerra se estendeu de 1864 a 1870, moldando os rumos da política dos países envolvidos até o final do século XIX.

Causas da Guerra do Paraguai

As causas do conflito são motivo de uma grande polêmica na historiografia brasileira. De um lado do debate estão os apoiadores da teoria mais aceita até os anos 90, mas praticamente abandonada hoje, que prega que o imperialismo inglês foi o maior responsável pelo início do conflito, colocando os países sul-americanos apenas como peões nas maquinações ingleses, do outro lado estão os historiadores que rejeitam completamente a influência inglesa e atestam que o conflito foi causado pelo choque de interesses entre Paraguai, Brasil e os demais países da bacia do Rio da Prata.

Muitos atestam que a Guerra do Paraguai foi uma espécie de continuação da Guerra do Prata, essa sim a mais importante guerra na região, pois praticamente todas as dinâmicas internacionais causadoras da Guerra do Paraguai foram resultadas dessa. O fim da Guerra do Prata deixou o Império do Brasil em uma posição completamente favorável em relação à seus vizinhos do Prata, sendo na prática a potência hegemônica na região, principalmente em relação ao Uruguai. O Paraguai, por sua vez, tinha sido aliado do Brasil até da década de 1850, tendo inclusive sua independência garantida pelo Império, tendo em vista as ambições argentinas de refazer o Vice-Reinado do Prata, conquistando Paraguai e Uruguai no processo. As relações entre os dois países, porém, se estremeceram por conta de impasses fronteiriços entre as duas nações e, principalmente, a questão da livre-navegação de navios brasileiros pelo Rio Paraguai, vital para o não isolamento da província do Mato Grosso que, por terra, era virtualmente inacessível, tendo boa parte do seu território composta de locais não mapeados e território selvagem.

Solano López

As relações entre o Paraguai e as demais nações do Prata ficaram ainda piores com a ascensão de Francisco Solano López ao cargo de ditador do Paraguai, após a morte de seu pai, em 1862. López, que tinha a ambição de tornar o Paraguai uma potência que pudesse interferir nos assuntos internos dos demais países do Rio da Prata, investiu pesadamente na importação de armamentos ingleses, já se preparando para um possível confronto. López prosseguiu alinhando o Paraguai diretamente com os interesses do partido Blanco uruguaio, que possuía posição contrária aos interesses do Império do Brasil no Uruguai, e com os caudilhos federalistas, opositores do presidente argentino, o centralizador Mitre.

Estopim

O estopim para o conflito foi, como não podia deixar de ser, uma situação no Uruguai. Devido a perseguições de cidadãos brasileiros habitando no Uruguai por parte do governo Blanco, conflitos fronteiriços entre os estancieiros do Rio Grande do Sul contra bandos uruguaios que invadiam a província para furtar o gado rio-grandense, desrespeito de tratados assinados entre os dois países, aliado a uma revolta popular contra o governo do partido Blanco, liderada pelo general Venâncio Flores, membro do partido colorado, além do rompimento de relações entre Uruguai e Argentina, levou o Brasil a intervir no país, apoiando a constituição de um governo provisório dirigido pelo partido colorado. López, que por tratados com o partido Blanco tinha passado a utilizar Montevidéu como porto para importações e exportações paraguaias, viu na intervenção um pretexto para declarar guerra ao Brasil, e assim o fez, aprisionando o navio a vapor brasileiro Marquês de Olinda e invadindo o Mato Grosso, em dezembro de 1864.

A Guerra

A Guerra do Paraguai é tradicionalmente dividida em três fases, a ofensiva paraguaia, a contra ofensiva dos aliados e a caça a Solano López.

A Ofensiva Paraguaia

Na primeira fase, era o Paraguai que tomava a frente na guerra, com vitória após vitória e a ocupação bem sucedida do Mato Grosso e das províncias do Sul do Brasil. Entretanto, em 1865, na batalha de Riachuelo, a marinha imperial destruiu praticamente toda a esquadra paraguaia, mudando os rumos da guerra e dando início à segunda fase do conflito.

Contra Ofensiva dos Aliados

A segunda fase foi marcada pela ofensiva aliada, com a expulsão dos paraguaios do Rio Grande do Sul e do Uruguai e, posteriormente, a invasão ao Paraguai, em 1866. Logo depois o exército paraguaio sofreu sua maior derrota, na sangrenta batalha de Tuiuti, que deixou um saldo de 10.000 mortos. Solano López, então, concentrou todas as suas forças na fortaleza de Humaitá, para deter o avanço aliado. Incapaz de passar por Humaitá, os exército aliado ficou estagnado.

Duque de Caxias

Só em 1868 as ofensivas foram retomadas, em virtude da chegada do Duque de Caxias ao fronte da guerra. Caxias, vendo a indisciplina dos soldados da tríplice-aliança, conduziu uma reforma no exército, transformando um amontoado de tropas em um exército realmente profissional. Em 5 meses do comando de Caxias, Humaitá se rendeu, e um ano depois as tropas aliadas entravam em Assunção. López, porém, tinha fugido da cidade, o que iniciou a terceira fase do conflito, a caça a Solano López.

Caça a Solano López

Em 1870 o Conde D’eu, genro do imperador, chega para substituir o Duque de Caxias, indicado ao cargo de presidente do conselho de ministros, no comando da guerra, com a missão de capturar López vivo ou morto, um pedido pessoal do imperador. No mesmo ano, as forças de López foram derrotadas na batalha de Cerro Corá, onde este foi morto, se encerrando assim a guerra.

Consequências da Guerra do Paraguai

Paraguai

A primeira consequência da Guerra do Paraguai foi o altíssimo número de mortos, especialmente do lado agressor, o Paraguai, que perdeu pelo menos um terço de sua população masculina e, para piorar a situação do país, a Argentina anexou um bom pedaço de seu território.

Brasil

A guerra moldou a história brasileira, a dividindo entre antes e depois da guerra, como podemos observar na frase do célebre romancista Machado de Assis: “Deus meu! Há pessoas que nasceram depois da guerra do Paraguai! Há rapazes que fazem a barba, que namoram, que se casam, que têm filhos, e, não obstante, nasceram depois da batalha de Aquidabã!”. Algumas das principais consequências para o Brasil foram: a organização de um exército permanente efetivo, que traria sérias consequências se pensarmos no grande número de golpes militares ocorridos no Brasil, o primeiro deles sendo a Proclamação da República, uma crise econômica para o Brasil, que viu boa parte dos seus lucros irem para os esforços da guerra e a libertação dos escravos que lutaram nos exércitos durante a guerra, o que fortaleceu muito a causa abolicionista.

Bibliografia

DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra, Companhia das Letras, 2002.

Rafael Ribeiro Andrade

História - USP

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