Cabanagem

A chamada "Cabanagem", que tem esse nome devido aos políticos conservadores, chamados "cabanos", foi uma revolta ocorrida na então província do Grão-Pará, que correspondia aproximadamente aos atuais territórios dos estados do Pará, Amazonas, Amapá, Roraima e Rondônia, durante o período regencial brasileiro, e durou 5 anos, de 1835 a 1840.

Causas da Cabanagem

A Cabanagem teve como causa principal o abandono, por parte do governo imperial, das reinvindicações de representação política e investimentos sócio-econômicos da província, cujos habitantes consideravam-se merecedores de um papel no governo do império, já que tinham lutado anos a fio contra os portugueses e seus simpatizantes, que queriam que o Grão-Pará permanecesse como uma colônia portuguesa separada do resto do Brasil.

Essa situação inflamou os ânimos dos fazendeiros conservadores da região (os cabanos), que ressentiam-se do poder e prestígio concedido aos políticos do sudeste, mas também gerou um sentimento de revolta entre os militares de baixa patente, e até mesmo nas comunidades indígenas ribeirinhas e nos "mocambos", que eram conjuntos de casas rústicas construídas com materiais diversos onde viviam escravos evadidos e suas famílias.

A Revolta

Apesar de rumores de revolta e secessão que vinham desde o começo da década de 1830, a rebelião atingiu o ponto de ebulição em 1834 quando João Gonçalves Batista Campos, um polítco, jornalista e cônego local, publicou uma carta pessoal do bispo da província, Romualdo de Sousa Coelho, sem o conhecimento do governo ou do autor, em que ele criticava diversas lideranças locais. Batista Campos foi perseguido e ameaçado de prisão e morte, e refugiou-se na fazendo de Félix Clemente Malcher, um político cabano. Na fazenda reuniram um grupo que organizaria a revolta, composto dele, Batista Campos, Malcher, Eduardo Angelim, um jornalista e seringueiro da região, e os quatro irmãos Vinagre, Manuel, Pedro, Francisco e Antônio.

Em novembro de 1834 souberam de uma incursão de tropas federais para cercar a fazendo, a mando do presidente da província, Bernardo Lobo de Sousa, e fugiram. Na fuga porém, Manuel Vinagre foi morto e Clemente Malcher preso. Então, na madrugada de 7 de janeiro de 1835, Antônio Vinagre, liderando uma força de cabanos, negros fugidos e índios, tomou de assalto o palácio do governo em Belém, libertando Clemente Malcher e nomeando-o presidente da província. No mesmo dia espalharam-se pela cidade, prenderam e executaram Lobo de Sousa e o comandante das armas da província, apossando-se da maior parte do material bélico intacto e nomeando Francisco Vinagre para o posto.

Alguns meses se passaram até que discussões entre os próprios revoltosos se transformou em uma guerra. Clemente Malcher, queria, juntamente com os setores mais ricos, apenas manterem-se no jogo político e manter o Grão-Pará como província do império. Francisco Vinagre e Angelim discordavam, e Malcher mandou prendê-los. Daí resultou uma batalha nas ruas de Belém, onde as forças de Vinagre e Angelim venceram, e invadiram novamente o palácio do governo, matando Malcher e arrastando seu cadáver em procissão pelas ruas da capital.

Em julho de 1835, Francisco Vinagre, agora o maior líder da revolta, faz um acordo com o governo federal para entregar a província pacificamente, em troca de maior participação política e a anistia total dos rebelados. Manuel Jorge Rodrigues é empossado presidente e em seu primeiro ato manda prender os irmãos Vinagre e a liderança da revolta. Os revoltosos ficam furiosos com a quebra do acordo, e retomam Belém após nove dias de batalha sangrenta, apesar da morte de Antônio Vinagre.

Auge e Queda da Cabanagem

A essa altura foi nomeado presidente Angelim, e a revolta atingiu proporções gigantescas, onde estima-se que um quarto da população da província (quase 40.000 pessoas) estivessem entre os revoltosos ou à favor da revolta. As tropas federais isolaram as fronteiras da província, que, sem comércio, sucumbiu à fome e à Varíola, e Angelim não conseguiu impedir o de Belém por uma esquadra da armada e a tomada da cidade sitiada em abril de 1836. Angelim então fugiu para o interior, mas foi capturado pouco depois da posse do novo presidente, o brigadeiro Francisco José Souza Soares de Andréa. Angelim foi exilado para Fernando de Noronha, mas mesmo sem liderança, a revolta não acabou, os rebeldes continuaram dominado o interior, e o Soares de Andréa conduziu uma brutal repressão com apoio federal, levando 4 anos para sufocar a revolta, matando no processo mais de um terço da população da província.

Bibliografia
  • CHIAVENATO, Julio José. A Cabanagem: O povo no poder.

Pedro Padovani

História - USP

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